quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Yakult

Na segunda série do colégio Osvaldo Cruz, em Maringá, foi que descobri o amor através de um copinho de yakult.
E desde lá, sempre me atrapalho com isso.
Detestava o colégio e estudar no período da tarde. Odiava a cidade como um todo, morar em apartamento e ficar longe da minha aldeia. Era a revolta em pessoa, passava os dias angustiado a jogar Atari até que vi Aline pela primeira vez.
Aline era a menina mais linda da sala, ao menos para os meus olhos. Era tão linda que comecei a ir mal nas provas. Aline me fazia divagar. Ficava imaginando situações como se uma bomba explodisse no mundo e só nos dois escapássemos. Assim, seríamos só os dois e, inocentemente, acreditava que isso faria com que gostasse de mim. Outra situação que me fazia deixar de prestar atenção na aula de OSPB era a de viajarmos juntos com toda classe e que por um capricho nos perdéssemos do grupo e daí, pimba: surgisse o amor.
A única vez que Aline me deu bola foi num recreio. Eu nunca levava nada de lanche, calhou que nesse dia estava com um yakult. Ela chegou e pediu um gole com o sorriso mais lindo que já vi. Fiquei tão atrapalhado com aqueles olhos me pedindo algo que tive uma reação inesperada e tosca: dei o yakult, mas em seguida puxei de volta. Quis fazer graça, mas deu tudo errado. Nem ela bebeu, eu muito menos. Minha atrapalhada atitude fez com que derrubasse os lactobacílios vivos na sua roupa, na minha e o resto foi ao chão.
A única chance que tive, desperdicei. 
Nunca mais tomei yakult depois disso e tenho certeza que derrubarei se tentar.
E o amor, que nasceu em uma cidade que não gostava e em um colégio que detestava, continua sendo o melhor refúgio para minhas divagações. Ainda penso em bombas que caem na terra deixando de sobreviventes somente a pessoa amada e yo. Perdoem-me por matar a todos.
Penso em uma viagem em que dois se perdem em meio ao grupo e partem para caminhos para além do traçado planejado.
E desde lá, sempre me atrapalho com isso.




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