O que faz o Tejo despencar de mil quinhentos e noventa três metros de altitude e percorrer mil e sete quilômetros a pé é o calor das águas do mar que sequer ele tinha certeza que existia.
Nem mesmo as batalhas que ao seu pé foram travadas, sequer o sangue que jorrou delas foi suficiente para assustá-lo.
E o Tejo vem vindo e vindo.
Nesse caminho, poucos souberam o que ia lá fazer aquele pequeno amontoado de águas de orvalho, misturadas com as águas que saem de dentro da terra, em uma pequena e insignificante aldeia espanhola. Sequer ele o sabia.
E o Tejo, sem se importar com isso, vem vindo e vindo.
O encontro das suas águas, ainda um pouco frias das serras espanholas e dos amanheceres nos campos com as do oceano, foi percebido primeiro pelo sol. Toda manhã ele faz o mesmo percurso do Tejo. Nasce lá para as bandas da Espanha e vem se deitar no preciso local onde as águas se encontram.
O por do sol é bonito imenso mas, se calhar, só é bonito imenso por isso.
Os cantores e o poetas perceberam, antes de todo mundo, esse encontro. É daí que nasce o fado, Camões e Pessoa. Tanto ninguém sequer sabia que, por anos e anos perambularam os dois pelas ruas de Lisboa a dizer que havia algo havia ali, mas ninguém dava-lhes bola.
Alfama foi o primeiro bairro que percebeu. Se encheu de luz de velas nas fachadas do casario e de pedras polidas pelo andar das gentes nas ruas para refletir melhor a luz. Tudo isso com caminhos tortos e inexatos. Tortos, inexatos e surpreendentes. Alfama é cópia do caminho do Tejo em busca do mar.
Só há uma coisa mais bela que a luz de vela de Alfama que é o sol indo embora nas águas do Tejo.
E aqueles que demoraram séculos para perceber o que os poetas, as ruas de Alfama, os loucos e músicos já se haviam dado conta há tempos, terminaram por inventar, tardiamente, o beijo. Hoje todo mundo se beija, mas poucos sabem que o beijo é a representação humana do caminho do Tejo. Hoje, alguns poucos ainda acendem velas na hora em que vão se beijar e fazer amor, mas poucos sabem que as velas foram inventadas por árabes em Alfama para representar o sol no Tejo.
Ao lado do rio, muitas estações de trem, barco e metrô surgiram, talvez para facilitar essas representações humanas todas. E o que é a vida se não um eterno chegar e partir? E o Tejo sabe disso.
As luzes de vela de Alfama, do céu de Lisboa e do céu de toda a gente. Os caminhos tortos, inexatos e surpreendentes do amor. O beijo como representação do encontro dessas águas.
E o Tejo que sequer desejou ter criado tanta coisa ao se jogar de uma serra insignificante no meio do nada, continua a sair lá todos os dias como no primeiro.
E tudo para se encontrar com o calor de um mar que ele sequer sabia que existia, apenas desconfiava.
Ao lado do rio, muitas estações de trem, barco e metrô surgiram, talvez para facilitar essas representações humanas todas. E o que é a vida se não um eterno chegar e partir? E o Tejo sabe disso.
As luzes de vela de Alfama, do céu de Lisboa e do céu de toda a gente. Os caminhos tortos, inexatos e surpreendentes do amor. O beijo como representação do encontro dessas águas.
E o Tejo que sequer desejou ter criado tanta coisa ao se jogar de uma serra insignificante no meio do nada, continua a sair lá todos os dias como no primeiro.
E tudo para se encontrar com o calor de um mar que ele sequer sabia que existia, apenas desconfiava.
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