Vivemos tempos estranhos. A
publicidade na qual todos nos vemos metidos e as formas de comunicação
instantânea faz com que tenhamos mais medo de perder o celular do que a própria
carteira ou a chave de casa.
Sem o celular eu não sei o número
de ninguém para ligar, não tenho como mandar um uatizap, não sei onde fica um
orelhão, muito menos tenho a coragem de pedir um outro telefone emprestado a um
desconhecido na rua. Somos extremamente comunicativos em nossos pcs,
smarthfones, ipads e cada vez menos fora dele.
O filme argentino Medianeiras trata
disso de uma forma singela e bonita. O filme ELA, com uma performance arrasadora
de Joaquim Phoenix, também. Ao mesmo tempo em que somos cada vez mais ágeis em
nos comunicar nesses meios, ainda sofremos dos mesmos dramas da época do
telefone que você tinha que puxar um círculo com os números.
Desenvolvemos afetividades
através dessas redes e entre quatro paredes ou num inbox nos desnudamos.
Tiramos o véu do que há de melhor e o de pior em nós mesmos. Demasiadamente
humano. Choramos no uatizap, gozamos em um chat. Desenvolvemos e frustramos
expectativas. É a nossa intimidade, apenas nossa intimidade. Trocamos de fotos
a sentimentos. Buscamos todos sair da solidão ou apenas passar o tempo.
Nesse mundo em que tudo se torna
público, começamos a achar normal exploração da intimidade alheia, a execração
pública e a destruição de personalidades com um simples propagar de um enter.
Pouco me interessa o que as
pessoas fazem em seus quartos, em seus chats ou nas redes sociais. Pouco me
importa a forma como elas amam ou fantasiam o amor. Eu só quero que elas amem e tentem ser
felizes em um mundo tão estranho como esse.
Estranho a ponto de se sentir verdadeira
pulsão em “revelar” ou ler a intimidade alheia. As pessoas começam achar normal
destruir laços afetivos, criar estigmas e carimbar para todo o sempre o outro. E
a melhor forma forma de banir alguém do mundo virtual é expor sua intimidade.
Em 2011 o jornal britânico News of the World, de Rupert Murdoch,
teve sua última edição publicada, após ser acusado de acessar
ilegalmente a mensagens de celulares de mais de 4.000 pessoas. Na época nos
indignamos e se pensou que esse tipo de invasão tivesse acabado.
Infelizmente, não foi o que
ocorreu. Hoje, com as redes sociais, estamos a um enter de nos transformarmos
em News of the World ambulantes.
Notícias do mundo particular. Dos
amores, das fantasias e das dores que só pertencem a quem, num belo dia,
resolveu sair do deserto que às vezes nos encontramos.
Um comentário:
Bauman já explicou isso, sobre o conectar e desconectar da rede, e como os laços humanos são minados pelas redes sociais ... Mas ficou bacana a sua conclusão.
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