terça-feira, 26 de agosto de 2014

O medo

O medo que chega e afasta os móveis da sala.
O que deixa a poeira por cima deles e impede de jogá-los fora.
Chega como veneno de cobra que paralisa.
Foi o medo que me fez buscar a segurança.
Quando a palavra segurança apareceu como remédio contra a palavra medo, tudo piorou.
Porque ao invés de enfrentá-lo ou usá-lo como fator de ponderação, a palavra segurança se tornou a vassoura a levar o medo e a deixá-lo escondido sob o tapete.
Está ali acobertado, mas ainda ali.
Segurança é o muro, a muralha, a cerca e a câmera que pede meu sorriso. É, também, o discurso do poder.
É o vidro grosso que tenta impedir a bala.
Esquecemos que temos medo e, antes mesmo dele existir, pedimos segurança.
Eu não me apaixono, porque isso fere minha segurança.
Sequer há tempo para se ter medo.
Fecho o vidro antes mesmo do pedinte.
Mudo de calçada.
E o medo sequer chegou, mas é preciso segurança.
O discurso do poder nos faz pedir segurança. Pública, privada, segurança.
O medo do amor, medo do assalto, medo.
Te ofereço segurança, diz o poder.
Segurança contra o que?
Contra o medo, diz-me.
Que medo?
Temos muitos. Com tantos, deve ter algum que sirva. Terrorismo, você já provou? É um bom medo, viu. Traficante é o que mais sai. Ah, tem também, o medo do pobre. Os ricos curtem muito. E tem o medo de ter medo.
É preciso responder obrigado.
Deixe que ele chegue e afaste meus móveis da sala.








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