quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A subversão do amor

Desconfio que hoje a maior subversão que pode existir em matéria de amar é duas pessoas decidirem dividir uma vida.
Explico.
Não vai muito longe que ser subversivo no amor era romper os padrões e trair os ritos. Atravessar as imposições e aquela coisa: é assim, porque era assim e sempre (?) será. Neste particular, a mulher sempre pagou o pato, mas felizmente as coisas mudam. Mudam, mas em uma velocidade que poderia ser bem maior, é verdade.
Claro que falamos aqui à partir de um olhar muito particular, de uma estrutura social que é uma pequena parte da sociedade e não a reflete como um todo.
Nesta particularidade, a fluidez do nosso tempo capitalista e a superficialidade com que se trata os temas essenciais do ser, deslocando-as para o ter, faz com que se perca a profundidade e a densidade da vida.
Isso impacta, como não poderia ser diferente, nas relações afetivas.
Por óbvio, as pessoas vivem momentos diferentes. As vezes se sai de uma relação de anos e se quer viver, botar o bloco na rua e estar na pista, como se diz.
Mas, independente disto e retomando, nossa sociedade atual vende que ter muito, mesmo que não tanto com muita qualidade é o caminho.
Para gado pode até ser, mas com gente é diferente, como disse a Disparada.
A cama continua sendo algo meio que revelador e sagrado. Ali não se deve deitar qualquer um ou uma. Deve se arrumar os lençóis para quem nos acrescenta e nos faz melhor de alguma forma, ainda que seja sorrindo num momento de descuido. Fazer renascer a poesia.
Isso, dificilmente se encontrará numa noite apenas.
Amar implica em conhecimento, revelação, descascar o outro aos poucos e se permitir ser descascado.
Na superficialidade da vida e na fluidez das relações afetivas, querer ir mais a fundo é encontrar a subversão.
Amar subversivamente, hoje, é tentar ir um pouco mais além do que se vê.
Neste amar subversivo, não existe posse ou ciúmes. Se está junto porque entre 1 bilhão de pessoas seu olhar foi o que fez açude nos meus.
Isso basta.
Nesses tempos em que substituímos as cartas por um clique, querer estar junto da pessoa amada e com ela compartilhar jardins e sonhos é dizer: seja bem vinda subversão, sua linda!












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