Me encomendaram um texto sobre o amor.
Logo eu que rompi tratados e trai os ritos. Difícil e complexa arte de representar aquilo que não se mede, que não se repete.
Um dia encontrei o amor. Estava nas mãos de uma mãe que, ao fim da tarde, sentada na calçada na frente de casa, procurava piolhos na cabeça da filha. A imagem delicada e de entrega, me comoveu.
Amor é o tempo que para e ponte que suspende. Horinhas de descuido.
Naquele momento, na calçada de uma cidade entre Minas e Bahia, pouco importava para mãe e filha as ações da bolsa, se o teria jogo logo mais ou se Obama era presidente de alguma coisa. Ali o tempo parava.
Amor.
Outro dia, flagrei meu casal de gatos, ao fim de uma tarde, se lambendo. Sorri, pois ali estava o cuidado e a entrega que só a ternura do amor é capaz.
O amor vem pelo correio, chega na rodoviária e parte pelo aeroporto.
Sempre vi o amor nas despedidas e chegadas, nos embarques e desembarques da vida.
Cena mais linda é ver alguém esperar por outra pessoa com flores na mão.
Esse abraço de chegada e de partida, é amor no sentido mais pleno da palavra.
Impossível falar em amor e não lembrar do pescador que, delicadamente, solta pétalas de rosas brancas no mar, em devoção a Iemanjá.
Amor é subversão.
Amor é falta de ar e suspiro.
É olhar que brilha na escuridão da noite.
Chuva que rasga a terra com devoção.
É ficar bobo, ser bobo e não ter medo de ser ridículo.
É saudade.
Horinhas de descuido, bolinhas de homeopatia contra a insanidade da vida.
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