Eu não gostava muito das festas de aniversário que meus pais faziam porque tinha que usar roupa e eu amava andar descalço e sem camisa.
É natural projetar, criança, quando seremos maiores e o que faríamos quando tivéssemos 14, 18, 20 anos. Parece meio cabalístico, mas sempre nos apegamos aos números. A virada dos 30, a chegada aos 40, os 18 anos.
Como se o tempo fosse compactado e se houvesse um procedimento com fases. Com um tabuleiro - sem, contudo, carta "auto-revés" (retorne 15 casas).
Desconfio que tudo isso é uma vã tentativa de controlar o tempo. Como se possível fosse. Ele nem se dá conta da nossa existência. Pretensiosos, todos nós.
Vão se os dias, o sol se põe (feliz de quem viu), as marés se alternam, a areia é levada no vento e mudam as dunas todas. A lua passa maquiagem para se tornar cheia e, se prepara de novo. E lá se vai mais um dia, como diria Milton e os irmãos Borges.
Se inexorável passa o tempo diante dos nossos olhos, não basta somente contar compasso. É preciso pulsar e repousar, como notação musical.
Praticamente impossível descrever o que mudou em trinta e quatro anos. Serenidade é uma palavra que me comove neste momento. Outra canção que me vem, é a de Raul: Saber que é humano, ridículo, limitado.
Absolutizar o que é absoluto e relativizar o que é relativo. Eu amo essa frase do Casaldáliga e a tenho como uma boa representação do que o passar dos anos pode nos dar em termos de busca de "maturidade".
E só.
De resto, seguimos com nossa bricolagem, construindo mosaicos de azulejos coloridos, tricotando desenhos e representando a nós mesmos em cada fim de tarde.
Nos amanheceres, nova oportunidade de refazer tudo. Até que chegue a roda viva e carregue a roseira pra lá.
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