Poucos conseguem notar, mas os poetas passam, rabiscam palavras em linhas todas tortas e partem sem sequer sentar no banco de casa. Deixam as palavras soltas, ora juntas. Palavras e sons. Elas nos cortam, abrem fendas no pouco de céu que nos sobra e nem ao menos cicatrizam. Não há tempo. As palavras ficam, os cortes padecem abertos. Nunca se fecham. E nunca se fecham porque representam dores, amores e flores que surgem pela janela de casa. Ainda que deixemos janelas fechadas por algum tempo, muito há o que se rabiscar. Escrever é sentir. Porque não, sofrer? Dói escrever!
Os poetas, todos eles, riscam o papel porque sentem dor. E desconfio que escrevem porque não encontram nada para amenizá-la. É como queimar o dedo e abrir a torneira de água corrente em cima. Enquanto a água desliza sob a pele, a dor passa. Cortou a água, ela volta.
Torquato não volta, nem veio para ficar muito. Tinha tanta pressa!
Aqui não cabia.
Deixou um monte de flores, dores e amores pelo caminho. Muitos nem se darão conta da sua existência (falo das flores), mas elas estão ali, esperando o toque.
Raro como um ipê branco, esplêndido como um fim de tarde no outono.
Belo como o rio Parnaíba.
Frágil como a pétala.
Doce como a cajuína.
Ácido como limão.
O poeta chegou e se foi sem sequer sentar.
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