terça-feira, 2 de abril de 2013

Sobre ventos e janelas

Costumava deixar a janela sempre aberta,
adorava sentir se invadida pelo vento.
Ele dava as caras em momentos inesperados.
Mesmo sem avisar, ela sabia quando chegaria.
Vento manda presságios aos mais atentos.
A maioria das pessoas só sabe de sua existência quando ele toca a pele ou desarranja os cabelos.
Algumas outras, raras é verdade, dialogam com o vento.
Elas sabem quando ele virá.
Hora de abrir a janela.
Ninguém entenderá nada.
Porque abri-la, se não há nada lá fora?
Ninguém entenderá nada.
Só os gatos.
Costumava destravar a tramelas,
se acomodar na rede e esperar por sua chegada.
Ninguém sonhava o que ela fazia ali, parada, com tanta coisa acontecendo. A TV, o jogo, a política, o trabalho, a novela, nada despertava sua atenção.
Quando ninguém sabia o que se passava lá fora, muito menos aqui dentro de casa, ela se deleitava com o seu segredo. Sorria por ser a única a desvendar os mistérios do vento.
Ficava ali, vendo estrelas, esparramada.
O vento chegava, ela sabia.
Desarrumava seus cabelos, tocava sua pele e a abraçava. A levava para os caminhos que chegam e para os se afastam.
Viajavam pela estrada sem destino, buscavam somente levantar a poeira e sentir o prazer indescritível de se envolver por inteiro pelo vento das esquinas.
E tudo começou com uma janela aberta.



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