Passei muito tempo com minha mãe nos salões de beleza e armarinhos de tricô.
Hoje não me lembro se porque queria dinheiro, porque lá havia algum brinquedo ou porque gostava. Lembro que havia muitas mulheres. Típico das tardes de cidade pequena. As agulhas grandes de plástico com a ponta quadrada, os fios pelos chão, restos de tecido, sofás e mulheres.
Eu estava sempre sem camisa, descalço. Quase sempre vindo da rua.
Acompanhava o desenrolar de fazimento de uma blusa de lã. Desde o desenho no papel até o crescimento dia pós dia. Era bonito.
As funcionárias faziam graça dizendo que queriam namorar comigo e eu ficava tímido. Aí é que elas me provocavam mais.
Sentia vergonha (mas gostava) e me avermelhava.
Observava tudo e ouvia suas conversas todas. Criança é detalhista ao extremo.
O mesmo se dava no salão de beleza. As mulheres, de toalha, não se importavam com minha presença, mas eu observa tudo.
Sabia cada história que elas contavam. Seguia os episódios e os desdobramentos. O que mais as deixava feliz e aquilo que mais as irritava. A verdade é que guardava cada palavra comigo e dava razão à elas.
Aprendi como se fazia um permanente: um capacete enorme em que elas entravam de cabeça. Ajudava a separar os plásticos com ceras quentes.
Assim, conhecia o corpo de cada uma e sabia das histórias da cidade toda. Algumas me chamavam mais a atenção que outras.
Quando ia cortar meu cabelo era no salão do João e Jaime. As fofocas não eram tão interessantes quanto as que ouvia nos armarinhos de tricô e nos salões de beleza. Faltava detalhes, floreios, faltava energia nas palavras e criatividade nas histórias.
Preferia os gracejos das funcionárias dos armarinhos e o cuidado com as mulheres no salão.
Indefeso, sem camisa, descalço e em meio a belas mulheres, pude perceber quão infinitamente maior e mais atraente é o universo feminino.
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