quinta-feira, 25 de abril de 2013

Proibido

Não sabia ao certo o que significava a palavra proibido até o dia em que minha irmã teve que ir hospital para nascer.
Eu que havia ficado na rua o dia inteiro, as horas todas e passado pelos picos de sol na pele, de maneira que de mim se pudesse alcunhar Juruna, coisas de meu pai e seus amigos de bar, cheguei em casa sem saber de nada. A barriga da minha mãe finalmente desmancharia e tal da minha irmã, seja lá o que isso significasse, iria nascer. Lembro da minha sujeira de suor, meu colar de poeira clássico no pescoço, os pés que se revoltavam contra os calçados. Sujo. Se alguma palavra pudesse me descrever seria essa: sujeira. A casa era de madeira e a porta estava aberta. Percebi que algo estava a acontecer, essas coisas sempre se percebe. Quando algo está ocorrer é possível captar na expressão das pessoas. Queriam uma foto. Até hoje a tenho. Minha mãe de camisola rosa, eu sujo da rua e a minha irmã estufando a barriga da minha pobre mãe. Nove meses!
Um problema surgiu em meio aos carros que sarpavam correndo. E o Patrick?
Acabei ficando.
Todos foram.
Logo depois, vieram me buscar. Me levaram ao hospital, mas fui barrado. Crianças não entram. Não sei se porque estava sem camisa ou porque era criança, só lembro da alguém dizer: criança não, é proibido!
Todo mundo lá dentro, minha irmã já estava fora da barriga e eu proibido de entrar.
Nesta hora devo ter coçado a dobra da minha perna, atrás do joelho. Sempre que me vejo numa situação incômoda eu me coço. Tem uma foto, das mais atingas, em que apareço numa calçada de praia, sozinho e sem camisa, coçando.
Estava eu a coçar, meio que sem graça, quando vieram me buscar. Deveríamos entrar pelos fundos do hospital. Dar a volta.
Assim fizemos.
Um caminho de pedra e pimba! Estava eu dentro do hospital. Minha mãe, onde estava?
Tudo estranho, frio, piso gelado.
Só o rosto do meu pai com um sorriso para aumentar a temperatura do ambiente. Até que a vi. Pequenina, enrrolada numa toalha branca. Pele rosa: minha irmã.
Foi assim que a vi pela primeira vez. Cometendo uma ilegalidade. Dando a volta e quebrando as regras estabelecidas.
Aos cinco anos de idade, para ver minha irmã, quebrei a convenção que tentaram me impor. Antes, porém, havia quebrado outra, numa escola em Frutal.
Aos cinco anos e sem saber bem o que se passava, pelas portas do fundos de um hospital no interior do País, vi nascer Palomita, desde então, minha vida nunca mais foi a mesma.




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