domingo, 24 de março de 2013

Marés de sizígia

Quanto há de infinitos mistérios nesse seu olhar?
Desvendar um deles leva tempo. 
Dois então, um livro de poesia.
Quanto de lua cheia existe na negritude dos seus olhos?
Caminhando entre um sorriso e um cheiro seu é possível ver o brilho de lua n'água.
E brilho de lua dentro d’água é como pegar um tanto assim de estrelas e molhar.
O lençol que cobre os rios, riachos, mares e lagos, brilha tanto em noite de lua cheia quanto o contraste branco dos seus olhos.
Um primeiro passo além de contar até cem, é ver o início do brilho perto da margem e depois, devagarinho, alongar o olhar até se perder nos vaivéns das pequenas ondas.
Tempestade de brilho de lua tocando lençol de água é como defino seus olhos.
E esse mar revolto e exuberante de brilho toma conta da lua, do pouco mar e da ponta de lago que tenho guardado.
O segredo desse seu olhar se releva como lua cheia vista de uma jangada. Primeiro um vermelhidão sem fim abrindo a temporada da noite. Depois e, aos poucos, se levantando e se impondo por inteiro, anunciado a não vinda da escuridão. Assim, o sertão terá luar e o brilho da lua n’água encantará todo céu e toda estrela que sair de casa.
E o céu ficará, naquela noite, seduzido pelo lençol de água brilhante, restando apenas corar.
Corar como coram os meninos diante do amor despertado nos primeiros bailes da vida, entre um gole e outro de catuaba e san remy, vendido a preço que se pode pagar com o quase nada que se carrega no bolso aos 20 anos.
Os infinitos mistérios desse seu olhar faz refletir a lua cheia em todo pedaço de água que há no mundo. 
Fitá-los em noite estrelada de outono nos faz transbordar com tanto brilho de lua e estrelas. Descansar o olhar dentro deles é ser inundado por marés de sizígia. 


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