A notícia inesperada de uma nova mudança me fez chorar por algumas vezes.
Na primeira, tive medo de perder os riachos, o céu imenso e livre da cidade pequena.
Na segunda, o medo de perder a adolescência e a namorada.
Ambas se deram na mesma aldeia.
Perdi os riachos e o céu livre da pequena aldeia.
Ganhei o barulho e a agitação da cidade grande.
Assustei-me como bicho do mato arredio, sempre a desconfiar de tudo.
Ao mesmo tempo em que assustei, tive que aprender contar histórias.
Inventava.
Num momento até colava, noutro era um desastre.
Me encantei, não minto, com a novidade das luzes, das lojas e da correria das pessoas.
Na segunda vez que chorei com medo de perder a adolescência e a namorada lembro muito bem.
Embora fossem poéticas as noites em que dirigia ilegalmente quilômetros para reencontrá-la, tive que deixar as duas.
Não sem sofrer.
Dias atrás, dei uma declaração para ajudar uma ex-estagiária num intercâmbio.
Revisitei todas essas situações.
Não lembrei tanto choro da partida, mas muito mais da novidade da descoberta.
Senti vontade de mudar novamente.
Ainda não sei bem para encontrar o que.
Talvez para ter a sorte de, no meio da travessia, sentir de novo a sensação de pegar um carro de madrugada, acender um cigarro e ouvir creedance pela primeira vez como aos 16 anos.
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