terça-feira, 31 de julho de 2012

O dia em que proibiram o samba.

Na primeira esquina da rua do silêncio
a ferrugem me impede de ler a placa pare.
Quase que derrubando a cerveja do copo de três velhos bêbados que resolveram instalar mesa na calçada do boteco, entro na primeira porta que encontro atrás de um isqueiro.
Em cima do balcão as salsichas, ovos cozidos, torresmos, fechadas em redoma de vidro.
No chão, bem ao lado direito da mesa, uma criança negra com um farrapo cinza cobrindo o corpo, dorme como se estivesse morta. O rosto rachado pelo sol indica que ali permaneceu por horas e horas.
A cerveja, como átomo, sai do balcão cheia e volta quebrada ou vazia e o atrito do abridor de garrafas no vidro, indica o reclame dos clientes.
Na esquina da rua do silêncio param mendigos, vadios e pombos.
Ninguém consegue ler a placa pare.
A voz enrrolada dos três senhores denotam alegria genuina. A criança se levanta e pede comida. Os pombos bicam migalhas no chão de concreto.
O samba se espalha, fruto de um cavaquinho riscado por um senhor negro de chapéu.
Os bêbados acompanham como podem a letra, a criança consegue um resto de porção e se esbalda.
Ninguém consegue ler a placa PARE.
Outro dia passei por ali novamente, trocaram a placa, mania do novo Prefeito.
Não existe mais som algum. Nem cores, nem flores.
Ninguém rebola mais.
A criança abandonada continua deitada, os bêbados gritando por mais ampola, só o Negro do cavaquinho que morreu.
Não suportou ver todo esse sofrimento em silêncio.

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