No telefone ficou um hora, não se importando com os clientes que ligavam feitos loucos. Sentiu aquele momento como quem saboreia chocolate depois de uma noite de amor.
Notícias de um mundo que ela conhecia, mas qua andava distante.
Ouviu Sil contar das suas viagens e das situações inusitadas pelas quais passava, mal percebeu que já hora de trocar o turno.
Na volta para casa, quando pagou a passagem do ônibus processava meio perdidamente as informações que recebera de Sil. Sua amiga estava com câncer nos ossos e por isso a carta, por isso a viagem para tratamento e, por isso, a ligação.
De repente, começou a chorar desdemedidamente.
O cobrador de nome Luís, tentava a consolar, deu um lenço e perguntou se poderia fazer alguma coisa. Ante a situação, desceu da sua cadeira, abandonou o posto e pôs se ao lado de Mel, deixando na mesinha de trabalho o exemplar de Shakeaspere, já surrado e cheio de rabiscos à lápis.
Mel, só tendo Luís para se agarrar naquele momento, o abraçou e desabou em lágrimas, grudou nos seus braços como um animal fugindo da enchente se agarra ao pedaço de toco que teima e não ser coberto pelas águas.
Neste instante, a catraca rodou livre, ninguém mais pagou para entrar naquele ônibus, numa tarde em que o cobrador sumiu do posto, levado pelas lágrimas da ilustre desconhecida que acabara de encontrar inusitadamente.
Um comentário:
Que trágico Pá...
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