O telefone, mais confortada por falar com a amiga de muitas estórias, olhava o céu azul e ele a jogava em pensamentos tantos, como o que seria da sua vida ao sentir o flerte da morte?
O que seria dos seus dias quando placas acenavam para o o fim deles?
Sempre foi pouco ligada em religiões, embora tenha estudado em colégio de freiras parte grande da sua infância.
Sil caminhava agora para um encontro que exigiria bem mais dela do que o que acabara de buscar com Mel: seus pais.
Conservadores, nunca se atentaram para os filhos, a não ser para o mais velho, empresário, ganhando muito dinheiro, um exemplo para a família, fotos do tal faziam às vezes de quadros na sala, roubavam o lugar de obras de grandes artistas, tanto era a devoção que tinham pelo seu irmão mais velho.
Dele, pouca lembrança guardava a não ser do fatídico dia em que ele encontrou a canabis e fez o maior escândalo, partindo para a briga, e valendo-se um de uma força desmedida, flertando com a violência mais vil.
Sil, já sofrera muito por esse irmão, pelos pais, agora não tinha mais o que ficar aflita, o que sofrer, tinha a doença e isso era tudo.
Daquela casa nos jardins, só tinha boas lembranças da casa da árvore que ela e os filhos da empregada Maria do Carmo fizeram.
Foi ali, naquela árvore que ela viveu os melhores momentos da sua infância.
Lá dentro não, o luxo da mansão dos Santis a oprimia e fazia dos quartos, das salas, dos jardins de inverno, grades de uma penitenciária.
Tocou a campanhia, ninguém havia lá a não ser o seu João, funcionário de décadas, jardineiro. Seu João sempre foi afeiçoado aquela menina de gênio forte, pirracenta e cheia de frases surpreendentes, como no dia em que ele plantava um pé de ipê na terra molhada.
- Tio João, se meu pai plantasse a sementinha dele na terra eu seria um ipê? E se ele plantasse a sementinha dele na água, eu seria uma sereia?
Quando a viu se emocionou, abraçou a forte e disse aquela clássica frase bíblica do filho pródigo.
Ela estava feliz por reencontrá-lo e ainda mais pela casa estar nas mãos dos trabalhadores, ao menos temporariamente, sempre preferiu aquele mundarel de concreto desta forma.
Contou ao seu João que estava doente, por isso veio visitar a família.
Ele se compadeceu da história e soltou aquela velha sabedoria que é peculiar as pessoas que, embora não tenham frequentado escola, possuiam um grau a mais de humanidade que o senso comum das pessoas:
- Deus é um cara estranho, ao invés de levar um velho como eu, que já viveu tudo nesta vida, escolhe uma flor como você, a senhora me adesculpe, mas tem coisa que não entendo não e me deixa encafifado, para não dizer embrabado.
Ela, ao contrário, já passava a entender e assimilar.
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