Mais ou menos quando ela terminou de ler a carta, precisava escovar os dentes e tomar o seu banho.
Não fez nenhum, nem outro.
Resolveu se olhar no espelho, como se isso ajudasse a encaixar as idéias.
Se sentiu feia, e passou a se perguntar porque havia pintado seus cachos de acaju. Olhou o porta retratos da estante comprada numa feira de móveis usados com o seu primeiro salário.
Dentro da moldura moderninha, viu Sil sorrindo e abraçada com ela. Ao fundo a cidade de Praga, perto da parte de cima da moldura, se via uma fina névoa de inverno.
Lembrou de como era feliz andando sem um tostão pela Europa, sentiu o cheiro da poeira que a chuva que passou deixou de lembrança.
Agora, tendo que colocar um uniforme da central de atendimento telefônico a qual devotava as suas horas, para no fim do mês receber uns trocados, sentiu vontade de sair por aí, como a corredeira finda da água na rua.
Achou o uniforme horrível, se sentiu aprisionada e com vontade de escrever a carta de resposta.
Mas, o relógio a impediu, era hora de ir.
Deixou a carta, na mesa da sala e esqueceu a conta de telefone.
No seu primeiro atendimento, nada de mais, um senhor mal educado reclamando dos serviços e ela toda educada e gentil, com vontade de mandar o cara para uma cidade chamada merda, se conteve.
Noutra ligação, uma dondoca que não tinha nada mais o que fazer na vida, além de arrumar briga com pessoas as quais se sabia de antemão, ser de rendimento bem menor que a de sua gorda aposentadoria.
Lá pela quinquagésima terceira ligação da noite, já puta da vida por ter que dar as saudações de praxe, recebeu um carinhoso afago na alma, era Sil, que ligava à cobrar de um orelhão público, sabe se lá fincado em que bairro, de qual cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário