"Querida Mel, você bem sabe como não sou ligada nessas ondas de internet, não sei nem ligar um computador, nem quero. Por isso, resolvi escrever essa carta para você, acho que a letra, o papel, transmitem muito mais o que sinto nesse momento que teclas causadores de uma sinfonia pobre e ritmada burocraticamente.
Sei que você deve estar meio atônita com essa minha iniciativa, mas meu peito doía, minha garganta queria gritar, mas tive que abafar meu grito, assim abafava meus desejos.
Isso me fazia implodir dia a dia, como nós fazíamos com aquelas latas de lixo onde descarregávamos nosso cuturno de couro, roubado de uma loja de cds de punk rock da galeria, naquela dia em que muito loucas de ácido, pinga e tudo mais o que tínhamos direito, fizemos aquilo com aqueles sacanas.
Aqui onde estou, tenho como companhia os ratos das ruas e o que a sociedade despeja todos os dias nos contêiners de detritos. E como nossa sociedade consome, fico assustada, não ouso chamar de porcos em respeito à esses animailzinhos, mas isso me revolta!
Sei que você largou o baseado por aquele cigarro de uma marca estranha. Soube também, que hoje você trabalha e paga o aluguel do seu ap, bom para você, de longe fico te imaginando levando essa vida , juro que não consigo. Mas, eu respeito.
Eu queria dizer que foi muito difícil para mim ir até um correio, imaginem a cara de espanto dos funcionários ao me ver com meu corte novo de cabelo que fiz à faca, tá azulzinho, você precisava ver.
Olha, tô só enrrolando não é mesmo, vamos lá.
Eu queria estar contigo, mesmo que nessa sua nova vida, formaríamos um casal inusitado não? Você toda caretinha, indo ao trabalho todo santo dia e eu com minha revolta chocando os outros.
Não me esqueço jamais, das noites de amor que tivemos, do carinho que você me devotava, dos nossos beijos em público que chocavam os intolerantes e enciumava os loucos.
Eu ando cansada de dormir por aí, sem saber ao certo onde, um dia aqui, outro acolá, ando mesmo me questionando de onde vem essa minha revolta com o mundo, com as pessoas, com a sociedade.
Lembro do meu tempo de careta, dos colégio altamente conservadores que frenquentei, das internações em clínicas, da minha família. Mesmo com todos os defeitos que ela poderia ter, e quem nos os tem, não é mesmo?
Calma meu, sua velha Sil não perdeu o rock na veia não, tô só soltando um pouco os pensamentos que de vez em quando vêm me visitar sem tocar a campainha. Rs...
Imagino que você deve estar rindo desse meu lado sentimental, não é mesmo?
Pois é, dentro de mim ainda mora um pouco disso.
Egoisticamente, espero que você não tenha encontrado outra mulher na sua vida. Caralho, logo eu falando isso porra, tô meio besta mesmo ultimamente.
Olha só Mel, tô indo para sua cidade final do mês e quero ver você e sua nova vida.
Mando um pá, quando chegar, ok?
Da sua ora louca, ora romântica, Sil. (A rainha dos bicudos na lata de lixo do viaduto do café).
Beijos”
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