No dia em que a chuva, surpreendendo a todos caia lá fora pela manhã, ela, jogando seus olhos pela persiana entreaberta, não poderia se dar conta de que logo mais receberia uma carta que a faria se despedaçar toda, como se seu corpo se dividise em tantas gotas de chuva quanto as que desciam sobre a cidade naquele amanhecer.
A chuva caia sobre o telhado da padaria, da loja de conveniência encravada no posto da esquina e por cima do boteco onde diariamente ela costuma comprar seus maços de hilton.
Antes mesmo de ir ao banheiro, como todos os dias pontualmente fazia com precisão de relógio de corrida, olhou de soslaio sobre a porta de entrada do seu apartamento e se deparou com o envelope branco, ainda tocado por pedacinhos da chuva que ela ouvia desabar lá fora.
Não se conteve e meio sonolenta, ainda sem saber se aquele acontecimento climático lá fora a faria ganhar uns minutinhos de atraso em seu trabalho, que se diga de passagem a entediava, caminhou para junto dos papéis no chão.
Junto com ela, uma conta de telefone que abriu primeiro. Ainda tocada pelo alto valor da conta nesse mês, pôs se a abrir aquele maço de papel.
Sentiu seu coração abafar o som da água que caia sobre a rua já em forma de enxurrada. Angustiada, pôs se a ler primeiramente sem ordem alguma. Depois, quando mais calma, resolveu começar pelo primeiro parágrafo.
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