segunda-feira, 21 de abril de 2008

A pé

Descalço piso a terra fria e húmida pela manhã. Sinto a areia vermelha riscar meus pés nus e desarmados, meu peso deixa rastros desasjustados numa sequência previsível.
Ao lado, uma mata ao fundo com uma plantação de milho adolescente que vem até perto de mim. Céu limpo azulado, barulho de bichos e pássaros. Meu séquito é composto por cachorros vira-latas.
Ainda guardo as lembranças da noite. Escura, nem nada de lua e estrela para distrair o frio. No breu mais violento tateava tocos, restos de árvores, capins que cortavam minhas canelas. Tudo estava molhado e irritantemente desordenado. Não havia lógica nenhuma naquele espaço sem fim.
Sentia o medo mais primitivo, mas não parei.
Descalço piso a terra já quente da manhã.
O sol abriu e agora queima minha pele.
Lembro da tarde, nostálgica tarde, nem tão quente como agora, nem tão fria como a noite e a manhã.
Meus pés riscam a terra vermelha, agora é pó e poeria.
Sinto sede e sorrio.
Sorrio das sensações ciganamente em mudanças.
Hora frio, hora quente, hora escuro e hora claro que cega.
Descalço piso a terra morna da tarde.
Meus pés continuam nus e desarmados.

Nenhum comentário: