Como disse ali abaixo, minha avó materna nasceu em Paranaíba/MS, ao falar dela lembrei da minha outra avó, Dona Alzira, essa mineira de Cambuquira.
Paranaíba é povoado antigo, terra dos índios Caiapós que desde 1700 eram capturados pelos bandeirantes paulistas para servir de força de trabalho e procurar ouro.
Vó Zoraide é filha de índios e sua mãe, conhecida carinhosamente pela gente como Vó Cota, trazia nos cortes de suas rugas os traços indígenas tingidos pela pele fortemente morena. Não precisava ser um sertanista para saber que ela era meio índia.
Dela lembro-me pouco, recordando-me mais da sua morte e do quarto que ela ocupava. Ele me despertava medo, principalmente em dias de chuva. Nós, seus bisnetos, brigávamos para não ter que dormir nele.
Paranaíba teve um papel muito importante na Guerra do Paraguay, pois pela localização servia de ponto de apoio logístico e abrigo para os civis refugiados. É de lá que Visconde de Taunay escreveu seu romance Inocência, que ficou conhecido no mundo inteiro.
Já a mineira Cambuquira, fui saber dias atrás, tem a melhor água do País e faz parte do chamado "circuito das águas". Antiga fazenda Boa Vista, de propriedade de 3 irmãs solteiras, Ana, Joana e Francisca da Silva Goulart que ao morrer deixaram para os escravos suas terras.
Não demorou muito para se descobrir a boa qualidade daquelas águas e, como consequência, não demorou também, para que arrancassem, das mãos calejadamente negras, "legalmente" as terras em 1861.
Conheci Vó Alzira já cega e o que me chamava a atenção além de sua simplicidade, era a picada de urutú cruzeiro que ela carregava no tornozelo como uma tatuagem. Toda vez que ia em sua casa eu ficava com medo, pois achava que a urutú estava por ali, à espreita para um novo ataque.
Seu velório foi muito simples, num bairro pobre de Ivaiporã/PR. Não acompanhei todo o ritual fúnebre, nem ouvi o barulho de terra tocando a madeira do caixão.
Dona Alzira criou 8 filhos em situação de pobreza, todos na roça, perdeu o seu marido João de Deus cedo, tendo que assumir o comando da família.
No velório foi a primeira e única vez que vi meu pai chorando.
Mas, no próximo texto escreverei mais sobre ela, nesse quis mais viajar para as cidades pelas quais essas duas mulheres passaram, lutando por suas sobrevivências e de suas famílias, num tempo em que tudo era mais precário e difícil.
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