Na noite de natal, com aquele som chato e com aquelas pessoas que nunca havia visto mais gordas na vida, ele quedava só.
Ninguém queria tirar um pedaço de sua orelhinha, do seu rabinho ou da sua costela. O leitão perdeu para o salmão e para chesters.
Pobre leitãozinho, tão moreninho, tão assadinho, olhava para a mesa com uma maça na boca e com o sabor amargo da rejeição a lhe correr pela língua.
Eu não queria dar feliz natal a ninguém, mas sabia que naquela noite o pobre pururucado estava mais só do que eu.
Minha solidariedade foi imediata.
Torcia para que alguém, nem que fosse uma criança capeta tirasse um pedaço seu, mas não, preferiam o rondele e o salpicão de frango.
E ele era tão bonito, não entendia o porque dele continuar só no meio daquela gente estranha.
Será que senti pena dele porque me via naquela assadeira? Não sei, só sei que o único feliz natal que eu realmente queria dar naquela noite era para ele.
Se comê-lo seria um forma de demonstrar isso? Não, definitivamente não.
Como eu, ele não queria que ninguém o comesse por pena ou compaixão. Só pude dar a ele um olhar de respeito e consideração, um aceno de solidariedade de quem sabia bem o que ele passou naquela noite.
Depois disso, surpreendentemente ele se levantou e me convidou para ir num puteiro ao lado. Lá, bebemos pra caramba, falamos das pessoas e dançamos com as mulheres que fazem amor com quem pagar.
Mas, não comemos ninguém, num pacto de silêncio entregamos para elas, o mesmo olhar de respeito e consideração que demos um ao outro quando nos vimos pela primeira vez, naquela enorme ceia de natal.
E, ao final, após pagarmos a conta, eu e o leitão rejeitado, abraçamos as putas e desejamos um Feliz Natal para elas.
Esse, verdadeiramente de coração.
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