Qualquer paixão me diverte

Como o cheiro do manjericão faz bem.
Adoro cheiro de alho frito no azeite, cheiro de churrasco.
Não gostava do cheiro de doce de abóbora que minha avó artesanalmente fazia nas férias, nem do cheiro do sabão feito lá em sua casa, em Ilha Solteira, no passeio Ilhéus.
Cheiro de café torrado é a melhor coisa para sair da cama.
Falando em minha avó, esses dias ela disse à minha irmã uma frase maravilhosa e surpreendente, vejam:
"Fia, qualquer paixão me diverte".
Claro que a Paloma agora fez dessa a sua frase do momento e a todo canto a repete.
Sul matogroseense de nascimento e famíla, minha vó Zoraide teve uma vida no campo, trabalhando desde menina nos pesados serviços da roça.
Dona de uma simplicidade e humor cativante, terminou a alguns anos o ensino médio, indo todas as noites na aula e recebendo das mãos do prefeito o diploma de melhor aluna.
É costureira de mão cheia e me recordo da sua máquina de nome estranho, acho que era da singer e das réguas grandes que eu fazia de espada.
Minha mãe ia para a faculdade e eu ficava com ela, esperando meu avô chegar da obra de macacão e cansado de mais um dia na barragem.
Sabe que a comida de meu avô na marmita preparada pela Dona Zoraide era uma delícia, eu adorava comer com ele.
Esses dias ela operou de uma hérnia e tem pela idade problemas sérios de coluna, mas construiu, para mim, a frase mais bonita do ano:
"Fia, qualquer paixão me diverte"
Unir simplicidade com profundidade é coisa para poucos.
É coisa para Dona Zoraide.
Bença Vó!