terça-feira, 21 de outubro de 2014

Soneto da saudade

Escuto passos rápidos e intrépidos no meu assoalho que é de madeira.
Tenho a certeza que logo você virá correndo, pois o som desses passos são das unhas vossas que não cortei.
Quando entro no banheiro, tenho cuidado para fechar a porta porque sempre você vem correndo a se jogar aos meus pés.
Quando uso o teclado, fico meio que em compasso de espera, aguardando a vossa interrupção.
Olho para a tela, vejo seu rabo passando quase na minha cara, suas patas a escrever junto comigo o texto.
Paro a escrita.
Espero você passar. Você só concluiu seu desfile quando faço um cafuné.
Tenho a certeza de que ouvi seu ronronar.
Sempre quando vou sair de casa, ainda me preocupo se deixei sua comida, sua água e limpei a caixinha.
E quando chego em casa, tenho vontade de anunciar minha chegada com o seu nome. Abro a porta, sinto que se enrroscas pelos meus pés. Piso com cuidado, ainda tenho a certeza que estás aqui.
Ouço passos no piso de madeira, sinto você.
Ainda não tenho televisão, mas queria muito tê-la só para imaginar você se pondo entre meu campo de visão e a tela. A única pessoa que me faz levantar do sofá é você. E não poderia existir nada que me prendesse a atenção mais do que você. Admiro essa elevada auto-estima e essa certeza de que coisa mais importante não há a não ser você.
Levantava do sofá meio bravo para te tirar de lá. Você fazia cara de vitoriosa. E logo voltava. E tudo continuava. Eu saia do sofá, te tirava de lá bravo e voltava a deitar. E logo voltava.
Sempre que vejo um irmão seu por aqui eu paro. Tento tirar foto. Tento chamar. Se preciso sento na calçada.
A saudade por aqui é felina.

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