Helena era quem João mais gostava.
Era para ela que ele fazia bonecos de massinha e só pra ela que ele emprestava lápis de cor.
Os bonecos de massinha que ele fazia nunca foram entregues porque João só sabia manifestar o encantamento que ele tinha, provocando Helena. Os bonecos dela eram bem mais bonitos e, também, o oprimiam de certa forma.
Ela pedia um lápis, ele fingia estar bravo e não emprestava.
Quando ele resolvia dar o lápis verde, ela já tinha saído triste sem entender aquela reação.
Meninos são tolos quando se apaixonam.
Mesmo sem entender as reações de João, deu a flor de feijão que cada um plantou no algodão e regou com água.
João então, sentiu pela primeira vez um gostinho do que é amar.
Logo depois, ela pediu um teco do seu yakult. Ele inexplicavelmente não deu. Ela saiu triste e ele se sentiu bobo.
Lidava melhor com a flor do que com seus próprios sentimentos.
Colocou a flor de feijão no criado ao lado da cama, foi brincar e esqueceu de colocar água.
A flor murchou.
Sem ter tempo para pensar em algo, chorou.
A água então transbordou dos olhos, fez uma curva na bochecha e em velocidade se espatifou no chão. Veio outra e mais outra. Incessantemente.
Naqueles raros momentos em que nos encontramos com o que nos há de mais profundo, num lampejo, colocou o copinho para receber a água que ele derramava para Helena.
Uma a uma, despencando do rosto e caindo no copo.
Chorou muito.
Quando choramos, vem o sono. Dormiu.
Quando acordou, viu que a flor de feijão que ganhou estava de pé.
Neste momento, encontrou pela primeira vez o amor.
Aprendeu a demonstrá-lo.
Muita gente não compreendeu, porque treinados a demonstrar o amor não o admitindo.
Helena sim.
E isso era o que bastava.
Trocaram lápis de 24 cores da Faber Castel e dividiram o yakult.
Ela ensinou a fazer bonecos mais bonitos de massa e ele a descer o morro correndo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário