sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

De João para Helena

João ganhou uma flor de Helena no último dia de aula da escola.
Helena era quem João mais gostava.
Era para ela que ele fazia bonecos de massinha e só pra ela que ele emprestava lápis de cor.
Os bonecos de massinha que ele fazia nunca foram entregues porque João só sabia manifestar o encantamento que ele tinha, provocando Helena. Os bonecos dela eram bem mais bonitos e, também, o oprimiam de certa forma.
Ela pedia um lápis, ele fingia estar bravo e não emprestava.
Quando ele resolvia dar o lápis verde, ela já tinha saído triste sem entender aquela reação.
Meninos são tolos quando se apaixonam.
Mesmo sem entender as reações de João, deu a flor de feijão que cada um plantou no algodão e regou com água.
João então, sentiu pela primeira vez um gostinho do que é amar.
Logo depois, ela pediu um teco do seu yakult. Ele inexplicavelmente não deu. Ela saiu triste e ele se sentiu bobo.
Lidava melhor com a flor do que com seus próprios sentimentos.
Colocou a flor de feijão no criado ao lado da cama, foi brincar e esqueceu de colocar água.
A flor murchou.
Sem ter tempo para pensar em algo, chorou.
A água então transbordou dos olhos, fez uma curva na bochecha e em velocidade se espatifou no chão. Veio outra e mais outra. Incessantemente.
Naqueles raros momentos em que nos encontramos com o que nos há de mais profundo, num lampejo, colocou o copinho para receber a água que ele derramava para Helena.
Uma a uma, despencando do rosto e caindo no copo.
Chorou muito.
Quando choramos, vem o sono. Dormiu.
Quando acordou, viu que a flor de feijão que ganhou estava de pé.
Neste momento, encontrou pela primeira vez o amor.
Aprendeu a demonstrá-lo.
Muita gente não compreendeu, porque treinados a demonstrar o amor não o admitindo.
Helena sim. 
E isso era o que bastava.
Trocaram lápis de 24 cores da Faber Castel e dividiram o yakult.
Ela ensinou a fazer bonecos mais bonitos de massa e ele a descer o morro correndo.



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