Modos de produção nos obrigam a dizer que cumprimos um papel. Sou o Professor, o Advogado, a Fisioterapeuta ou uma série de profissões, todas com sua nobreza.
Funcionário público e ponto.
Mecânico e ponto.
Condicionados desde pequenos, criamos muitas vezes personagens de nós mesmos. Nada de errado em criar personagens, mas o problema é usar o singular da palavra. Incorporamos tanto a profissão que só de falar e andar, já dá pra sacar de qual é. Numa mesa de bar, aqueles mais chatos, verborrágicos e teimosos na argumentação, podem ser da área jurídica. Se alguém fala para mim que é preciso uma ação dialógica, pimba! Cravo logo que é da academia.
Desenvolvemos nosso corpo à partir desta imposição. Hérnias, síndromes do esforço repetitivo, obesidade e pressão alta.
Muitas vezes, nem mesmo em casa se consegue descolar. Entre salas, camas e até mesmo na hora do amor, se tenta ser a Professora, o Médico ou a Advogada entre os seus. Acabamos por nos tornar chatos e previsíveis.
A imposição é tão grande em ser algo que geralmente iniciamos um diálogo com uma pessoa desconhecida com a célebre pergunta: o que você faz?
Como se houvesse ou devesse existir uma só resposta.
Definitivamente, não é uma questão apenas de singular ou plural.
Busque qualquer mestre do Renascimento e verá a resposta no plural: era Poeta, Escritor, Arquiteto, Escultor e ainda Engenheiro.
Por óbvio, não é todo dia que nasce um Michelângelo.
O problema é que temos produzido e reproduzido em série, um único personagem de nós mesmos quando poderíamos ao menos tentar ser diferente.
Renascer para várias vidas.
Gozar o milagre biológico que é o viver com infinitas experimentações.
Talvez assim, ao responder a clássica pergunta, poderemos dizer: Bailarina, Escritora, Surfista, Jardineira e, também, Dentista nas horas vagas.
A humanidade seria muito mais divertida e atraente, sem dúvida. Se a vida é um sopro, que ao menos se tente vivê-la de múltiplas e desafiadoras maneiras.
Viver uma vida somente é muito pouco.
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