É uma arte conseguir enxergar estrelas durante o dia.
Querem nos convencer primeiro de que é impossível e, depois, de que isso é coisa de vagabundo.
Estrelas foram feitas para a noite, assim como o sol para o dia e assunto encerrado. Ponto final.
No entanto, não é somente possível como imprescindível buscá-las do nascer ao adeus do sol.
É o cotidiano que nos subtrai, que cega-nos diante da infinutude das possibilidades da vida e de sua finitude e sopro.
Quantos dissabores teríamos evitado, quantas discussões idiotas poupadas, quantos medos e equívocos subsumidos numa simples visão de estrela durante o dia, nisso se incluindo as cadentes.
Estrelas nos apequenam e ao mesmo tempo dão-nos a exata medida do quase nada que somos, sem contudo, jogar-nos para baixo; ao contrário, sentimos algo diferente, uma justificativa a mais para estarmos aqui vivendo, apesar dos pesares. Por isso tão necessárias, imprescindíveis.
Se procurar bem é possível junto ver uma lua e, bem mesmo, até uma cheia.
O dia meio que nos afasta desse contato pleno com o universo.
Nada melhor que uma noite para devolver-nos o sentido de tudo. No meio rural, mais ainda, por isso adesconfio que os homens do campo são humildes e sábios ao mesmo tempo, porque tem como quintal a noite estrelada.
Voltado ao dia e à necessidade de enxergarmos estrelas nele, creio que quanto mais estrelas conseguirmos encontrar durante o dia, mais verrugas, ops, mais tranquila será nossa existência.
E fique tranquilo respeitável público, pois ela nos aparece quando menos esperamos; num trapezista de semáforo, num moleque de rua, numa chuva ao fim da tarde, num buquê inesperado ou, mesmo, na conclusão de um trabalho socialmente justo.
Estão por aí, espalhadas, soltas como migalhas, procurando donas e donos, corações, lágrimas e sentimentos.
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