Da minha casa barroca, vejo pedras juntadas por mãos de escravos. Dentro delas, dentro da humidade dos seus vãos brota florezinhas pequenas, verdinhas.
São tão pequenas que as pessoas pisam nelas sem se importar.
Devem ter brotado do suor daquelas mãos negras, sofridas e castigadas pelo senhor branco de ontem.
Daqui da minha janela eu vejo o tempo corrido como nuvens brancas sopradas pelo vento. Uma hora são de uma forma, noutra de outra. Uma hora o sol se esconde por detrás delas, noutras as rompe com força, jogando sobre minha pele o raio quente.
Olho para a Igreja, para o sino que parado estava aguardando a hora da missa. Pensei nas crianças ali batizadas, nas mulheres ali casadas, nos sermões ali proferidos...
Vi também as crianças, fazendo barcos na enxurrada que vinha duma área lavada por uma doméstica.
Soltas, descompromissadas, leves e num sem tempo total, sorrindo, chorando...
Da janela vejo, também, os casais de namorados na praça, comprando maça do amor, andando de mãos dadas.
Tudo isso da janela da minha casa barroca.
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