terça-feira, 4 de março de 2008

No Congresso, as rosas ainda são de plástico.


Obs: texto escrito aos 08.03.2006.
Ao lado de Noaldo Meirelles e Mariana Mei adentramos ao salão azul do Senado Federal, para assistirmos à sessão do Congresso Nacional, onde seria prestada homenagem à 2 grandes guerreiras camponesas, Elizabeth Teixeira e Geraldina Pereira.
Para quem não conhece, Elizabeth foi companheira de João Pedro Teixeira, fundador e líder da liga camponesa de Sapé, na Paraíba. Já Geraldina, foi companheira do sindicalista rural João Canuto que desenvolveu sua luta pela reforma agrária no Pará.
Ambas, tem suas vidas marcadas pela tragédia.
Tanto uma como outra, perderam entes queridos pela ação da violência estúpida dos que detêm o mando sobre a terra em nosso País.
João Pedro foi assassinado aos 2 de abril de 1962, quando se dirigia a João Pessoa para participar de uma audiência, onde se discutiria questão possessória. Três tiros pelas costas. Mais uma vítima da violência do latifúndio tombara.
Já João Canuto foi assassinado em Rio Maria/PA, por pistoleiros a mando de fazendeiros, aos 18 de dezembro de 1985. João recebeu 18 tiros.
Mas, não é pelas atividades dos maridos que elas foram e são homenageadas por onde vão.
Mesmo tendo visto o sangue de seus amores aguar a terra pela qual tanto lutaram, mesmo sentindo o cheiro da pólvora e vivido o horror da insanidade dos verdugos dos senhores da terra, elas seguiram adiante, rumo ao cume onde só as grandes mulheres da raça humana trilharam.
Seguiram o mesmo caminho de Rosa Parks e Margarida Alves.
Lutaram.
Hoje, 44 anos após o assassinato de João Pedro e 21 anos da de Canuto, o Congresso Brasileiro decidiu prestar uma homenagem a essas duas brasileiras.
Das galerias do Senado Federal, assistimos a toda cerimônia.
As duas foram levadas ao cume da casa alta, receberam flores e uma placa junto aos aplausos de 40 embaixadoras do mundo todo.
Mas, por estranho descaso, elas não puderam falar. Ficamos aflitos por ouvir suas vozes da tribuna do Senado. Nós e todos os que admiram suas histórias. Mas, nada. Nenhuma fala. Erro do cerimonial? Duvido, quem presidia a sessão era a companheira dos movimentos sociais, Senadora Seres do Mato Grosso. Desídia dos Senadores e Senadoras? Não acredito. Lá no plenário, estava a brava e polêmica Heloísa Helena e a companheira Ana Júlia do Pará.
Desconsolados e indignados, Noaldo, Mari Mei e eu, procurávamos explicações. Até que, olhando para os buquês de flores que enfeitavam a mesa principal, achei o motivo. No Congresso, as rosas ainda são de plástico.

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