quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Seu Zé

Seu Zé sempre nos recebia com um sorriso sincero, era o mais querido entre todos os porteiros do prédio. Educado, gentil e muito cortês.
Esses dias eu fiquei observando o porteiro do prédio, quantos bons dias, noites e tardes não tinha que repetir para os que entravam e saíam do edifício.
Em São Paulo, quase todos os que conheci eram nordestinos.
Quando morei no Bom Retiro, fiquei muito amigo do Edi, um baiano muito boa praça e sorridente. Foi em festas no meu apê, uma vez emprestou o seu fiat 147 para que eu levasse uma namorada para fazer provas.
Outro dia, passando por lá, parei e fui cumprimentá-lo, tomamos uma cerveja no bar da esquina, que ainda tinham as mesmas donas.
Foi um dia muito especial para mim.
O que me dói o peito é vê-los sentados tendo que espantar o sono da madrugada. Muitas vezes chego da festa e sem graça tento não fazer barulho para não acordá-los.
Mas, é uma profissão que às vezes deve pesar os ombros, moradores mal educados, dondocas cheias de si adoram maltratar as pessoas.
O Seu Zé aqui foi funcionário do mesmo prédio durante 30 anos, o segundo que o edifício teve.
Tinha um sonho de ser síndico.
Só que pelo estatuto, só o pode quem é proprietário.
Ele não era dono de nenhuma das salas as quais cuidou por 3 décadas.
Esse sentimento deve ser estranho, cuidar tanto tempo, com tanto zelo de uma coisa que nunca será sua.
Dizem que ele tinha muitas idéias a respeito de como melhorar nosso prédio e tentava convencer o síndico atual de suas importâncias. Não era ouvido.
Triste fim o do seu Zé, encontrado morto, no porão do prédio, com o pescoço segurado por barbante enrrolado.
Suicídio todo mundo quer entender o porque, será que foi por conta da mulher, do trabalho, dívidas?
Às vezes naõ foi por nada disso e por tudo isso ao mesmo tempo.
É uma decisão que choca, aturde e entristece.
Mas, acima de tudo deve ser respeitada.
Agora, ao descer a escada para ir embora, não terei mais aquele sorriso franco e sincero e ele, pelo menos hoje, ocupou o pensamento de todos os que só limitavam a dar-lhe bons dias, tardes e noites.
Vá com Deus seu Zé!

2 comentários:

Paloma Gomes disse...

É ele não aguentou o peso da vida.

Unknown disse...

Linda lembraça, Pá!!!! Nesse dias corridos, não é em qualquer esquina (tão pouco nas inexistentes de bsb) que encontramos pessoas com sorrisos largos para aqueles quase desconhecidos ... Fica a saudade daquele bom dia, boa tarde e boa noite, sem nunca esquecer o none de cada um que cruzava as portas do Arnaldo Villares .... Amém!