Eu desenho traços equidistantes, paralelas que não se cruzam em Belém do Pará, muito menos passam perto daquela aldeia escondida no meio do nada, onde hesitante fui nascer.
Crio cores vivas com dores sentidas de amores não vividos, apenas sonhados.
E tinjo com um laranja, como pôr de sol no cerrado, os amores por mim abandonados.
Azul mesclado com sabor de ostra fresca e gelada para aqueles que eu tive e não soube cuidar.
Branco para os que estão vindo e, eu ainda nem sei bem de onde.
Eu desenho um pato bonito, não cisne, pato mesmo, dentro de um lago, numa convidativa aldeia que vi durante anos em quadros baratos, de residências humildes.
Contemplava esses quadros, me fazia querer entrar por dentro deles, tocar o chapéu de palha daquela elegante senhorita que trazia flores numa cesta, penduras no guidão da bicicleta.
Joguei fora e quebrei com tijolos, quadros tristes, de gente chorando, porque ouvi dizer que eles eram amaldiçoados.
Agora vejo o vermelho, de tão encantandor nem sinto que me cortei profundamente. O sangue foge de mim como se estive numa penitenciária de máxima segurança. Eu aprisionava-o, sem querer. Agora deixo escorrer na vazante de um furioso riacho no pé da serra.
Fico olhando para ele, brilhante e vivo, enquanto me sinto fraco.
Meu quadro, está quase pronto, capturei gaivotas e atraí o mar.
Aos poucos o coloquei no lugar de meu sangue, sinto de pronto o sal secando minha boca.
Não sei mais se estou vivo, ou se morto flutuo em águas leves.
Acho que fiquei preso dentro do meu desenho.
Mas, ainda bem que desprezei as molduras, minhas linhas, cores e traços estão totalmente soltas.
Um comentário:
Pelo visto tu está na fase da Garatuja... rs
Postar um comentário