Burros

É ruim se sentir cada dia mais burro.
Quase aos trinta, tenho a impressão que minha inteligência se estancou há alguns anos atrás.
Na infância, ficava procurando uma pessoa que fosse mais inteligente que eu. Não encontrava.
As observava até encontrar um deslize qualquer e, pimba! Vacilou, perdeu.
Logo que alguém aparentemente muito inteligente aparecia, ficava eu do seu lado, grudava, fazia perguntas sobre a família, sobre a vida até descobrir um ponto fraco.
E como eles aparecem.
Então, cresci procurando esse ser iluminado que fosse, digamos, mais sábio que eu.
Depois, desisti de procurá-lo, não faço mais isso, embora continue sendo muito observador de gente.
Comecei a me observar, não mais aos outros, fixei-me em mim mesmo.
E o que tenho descoberto, tem cada dia me causado mais surpresa.
Sou burro pra caralho.
Sofro à toa, por coisas banais.
Absolutiso coisas relativas, amo demasiado o que não deveria e, gasto o tempo com coisas imbecis.
Aos poucos sinto que vai minha inteligência rio abaixo, em franca decadência.
E aquele astuto observador e caçador de gente mais "burra" que ele, há tempos não mora mais aqui.
A idade tem feito comigo sonhar menos, conformar-me mais, estagnação virou sinônimo de segurança.
A ansiedade pululante que me fazia irriquieto hoje me aprisiona em seguros cotidianos.
O mudar de antes, hoje é diagnóstico de uma ansiedade desenfreada geradora de quilos a mais.
Discursos radiciais não me empolgam mais.
Ídolos, todos são de barro.
Ideologiais são cheias de furos e, em nome delas muitas coisas más são feitas.
Maldade e bondade não existem mais.
É tudo relativo.
Não sei qual dos dois me fazia mais feliz, o menino cheio de si de antes, ou a toupeira conformista de agora.