Já tentei isso muitas vezes, porém,
nunca sem antes fazer flutuar meus olhos n'água.
E se, até então isso meu lápis estancava, hoje quero palavras
de lágrimas criada.
Eu queria dormir, morrendo de sono já, mas você estava ali, pegando no meu braço, ensinando-me com todo amor lições de tabuada. Tentava lhe compensar esse amor sentado descalço e sem camisa, dentro daqueles salões de beleza, onde as mulheres da cidade iam todas. Ficava ali sentando, vendo as fotos das revistas de fofocas, ouvindo o burburinho entrecortado pelo som de secadores e de barulho de depilação à cera. Esperava por você.
De repente, uma noiva. Como me chamava a atenção uma mulher sendo preparada para carregar um peso de ouro no dedo. Ali eu permanecia horas e horas, aguardando os seus dedos receberem o esmalte, os cabelos ficarem ainda mais belos.
Cresci, mas ainda me sinto como aquele indefeso menino, descalço e sem camisa, por entre aquelas todas mulheres, te esperando. As lágrimas me tomam os olhos, não sei porque, deve ser excesso de amor recebido de ti.
Ainda me sinto como aquele sonolento aluno que deixava, para a véspera da prova, o estudo. Inconscientemente, fico esperando seus dedos apagarem minhas atuais erradas lições.
E, ouço ainda, você me cantar aquela sua música "O circo chegou na cidade...", música que criastes para me distrair. As cartas de amor, trocadas por você e pelo pai quando eu sobrepesava sua barriga são maravilhosas.
O seu jardim, cujas ervas daninhas foram retiradas uma a uma por você, com sua faca de cozinha é o mais belo de todos e, veja só você, as noivas, ah... as noivas, abandonaram o jardim da igreja para lá fazerem suas fotos com seus amores.
E o meu jardim, ainda muito incompleto, como o da nossa casa, seria um terreno baldio, não fosse você.
Acho que hoje Mãe eu darei um pulo no nosso jardim, olharei o poço, a roda d'água, falarei com o Saci e com o Curupira e buscarei por você, sentado naqueles tocos de madeira, daquela linda mesa que lá você locou.
Hoje mãe, vou abrir aquela geladinha que você tanto gosta, vou fazer gracejo para a primeira noiva que me aparecer, inventarei uma música.
Cuidarei do primeiro jardim que houver e da primeira estrela que vier.
Para tentar retribuir a você todo esse amor, eu prometo que cuidarei das crianças, filhos meus ou não, como você cuidou de mim.
Feliz aniversário Mãe querida, do seu meninho descabelado, indefeso e tímido de sempre.
Saudades muitas.
Amo você.
3 comentários:
Foram as mãos dela que retiraram as nossas ervas daninhas na infância, aqueles obstáculos que sem ela era dificil pular. Por isso hoje, temos tanta fificuldade em limpar o nosso próprio quintal, em superar as dificuldades sozinhos.
Essa é a nossa mulher.
Beijão
Lindo isso, sem palavras.
é, ela deve ter chorado ao ler isso aí, né... quanta emoçao, quanto sentimento. que coisa boa...
abraçao
adriano
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