domingo, 3 de junho de 2007

Sepultura

Eu tomei vodka com coca numa lata de baygon.
Sim, é verdade, caminhei por entre capins selvagens com dois desconhecidos. E a lua estava entorpecente.
Um pintor e, o outro, caixa de supermercado. O pintor é mais famoso, fez a faixa da torcida do brasiliense que saiu no globo esporte local.
Desconhecidos.
Gente, é preciso ter fome de gente! Estão aí, por entre esperas de ônibus prontos para serem desvendadas, comidas. Cada qual com suas contradições, medos e angústias...
E o medo de que poderiam me roubar, levar meus cinquentão da carteira e meu cartão de crédito cujo pagamento mínino nem dei conta esse mês, foi menor do que a vontade de conhecer suas estórias, acertei em cheio! As duas cervejas que paguei pra eles antes do show do sepultura, valeu uma análise profunda, de cambalhotear o espírito.
O pintor sonhou certa vez que havia cortado a cabeça de sua companheira de 22 anos e jogado boliche com ela, os olhos eram os furos da bola. Mas, acreditem gente: ele a ama e, de verdade.
O tiner não coseguiu tirar todos os restos de tinta de suas mãos, mão calejada, de gente sofrida, mas que goza a vida. É evangélico, mas naquele sábado queria se encontrar com o capeta, deve ser muito entediante mesmo ficar sem vê-lo vez ou outra.
Trabalha de madruga, fazendo os painéis que agente vê por aí e nem se dá conta de quem o fez. Ali tem arte, tem sangue e o combustível são as K7 do Deep Purple, Black Sabat e Led que ele tem, reclamou-me que hoje em dia ninguém conserta mais Walkman de K7, tempos modernos, mas ele ainda terá o seu MP3 player!
Outra história que eles me contaram, essa mais triste é verdade: um filho, após ter tomado um antidepressivo de pobre, misturado com alcóol, mata a mãe e estupra a filha. Eles estavam indignados por isso, claro, pobre também toma anti-depressivo!
Advoguei para o Délcio pintor e dei dicas quanto à audiência que terá, sim por que o sonho que ele teve o expressou numa briga verbal com a companheira, ela chamou a polícia e por isso a audiência. Ainda se punem sonhos!
Polícia...o que eles sabem de amor, de pintores de faixa, de vida?
Saiu do Rio em 74 e veio, como o João do Santo Cristo, tentar a vida aqui.
Demorou, mas encontrei a lata de baygon que precisava!

Um comentário:

ADRIANO FACIOLI disse...

"Eu tomei vodka com coca numa lata de baygon." esse inicio ficou fulminante...