Dora era amada por Marlene só que nunca soube.
Nem pode perceber, nas mais de 1000hs que passaram juntas, o olhar piegas que Marlene despejava-lhe, muito menos pode sentir o palpitar das descompassadas batidas de coração enfiado em blusas de renda, delicadamente costuradas por mãos de velhas senhoras, numa praia do Ceará.
Um carinho a mais nem sempre é percebido pelas pessoas que, às vezes, o vêm como pagamento pela sua existência, pelas horas de sorrisos gratuitos distrubuídos com apertos protocolares de mão.
Solícita, Marlene enviava vez ou outra, páginas de intenet que ajudariam amada, como a que resolvia os problemas com o fisco, causa principal da ansiedade que Marlene sofria naqueles dias.
Junto, aproveitava par mandar contos doces, que falavam de amor, mas tudo em vão.
Se pintava, escolhia a melhor roupa e combinação, ligava sempre que a angústia da falta tomava-lhe o peito. No caso dela, nem quando dormia se libertava disso.
Tinha que tomar uma decisão. Falar, ou se esconder por detrás de páginas de net, contos lacrimosos e prestatividade geral e irrestrita?
- Dora, tenho que lhe falar uma coisa.
- Diga querida.
- Você sabe que nós temos nos aproximado muito nas últimas 1000 horas e, eu tenho sofrido muito por isso.
- Como assim Marlene?
- É...é que eu tô gostando do seu namorado.
- Sim, qual o problema nisso?
- Ontem, eu catei ele.
- Você tá louca?
-Tô sim, há dias.
- Suma da minha frente, pensava que você gostasse de mim sua filha duma puta desgraçada!
Com os olhos cheio de lágrimas foi-se, sem olhar para trás, não era a primeira vez que não controlava seus instintos, saía com a sensação de ter feito tudo errado novamente.
Que merda, pensava, caguei de novo.
Só ela sabia de fato o quanto lhe doia amar Dora e, quanto esse tanto amor lhe atabolhoava os sentidos a ponto de ficar com o Kairo, sem nunca ter sentido nada por ele.
Nessas horas, tinha plena consciência da sua origem mais selvagem, de sua descendência macacal, dos seus pêlos, do choro, da raiva... Isso a confortava de certo modo, evolução das espécies, ausência de cio na raça humana, controle social...
Agora era pedir a vodka naquele bar deprimente, cheio de refugos da sociedade, acender um maldito cigarro e, aguardar que o turbilhão de sentimentos, como tapas impiedosos, tocassem sua face novamente.
Um comentário:
Lindo Pá...
Sem palavras.
Superação total...
Beijos
Amo-te imensamente
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