
Outra pergunta: como pode a estupidez mais tacanha ferir, com força, um umbuzeiro cujos pés foram carinhosamente tocados pela chuva e, cujas flores alegres se descatam por entre arbustos da caatinga?
É que eles nunca puderam ver uma noite de lua cheia no sertão, muito menos um pé de umbú florido.
Eu já havia visto sim, tanto a lua como um pé de umbuzeiro cravado no sertão. Só que nunca havia conseguido chegar perto, olhar para os seus pés, entender o porque de flores tão belas em meio a arbustos retorcidos.
Esses dias eu pude.
E a beleza que antes eu pudera tão somente contemplar, pude tocar.
Nesse dia, ele estava ferido pela ação de mãos insanas e pela covardia de um cassetete.
Vi o ferimento causado em um de seus galhos, e senti que as flores estavam meio que anestesiadas por não entender tal ato de vilania.
Mas, mesmo assim, continuava belo. Entendi com isso, que a sua beleza não emana somente das flores que se destacam na caatinga, mas também, de suas raízes fortes, por anos de luta contra a seca, contra a injustiça.
Flores existem muitas por aí, com seus explendores e encantos. Raro encontrar é flor bela com pé profundo. Essas são as mais especiais.
Como um jardineiro orgulhoso, cuidei de seus pés, protegi do frio impiedoso, abracei-lhe o tronco e senti o perfume de suas flores.
Pena é que o sertão e o agreste aguardavam ansiosamente o seu retorno. Compreensível, pois quem dá graça aquilo tudo e faz os pássaros cantar é ele o umbú.
Resta-me agora caminhar, na esperança de que logo possa sentar sob sua sombra, numa noite fresca de outono, com a lua a nos espreitar, enchendo ainda mais de graça o sertão e, te tornando, se é que isso é possível, ainda mais bela e cheia de encanto.
Um comentário:
achei lindoo...
adimiro tamanha inspiração e criatividade...
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