quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O rio

Este é o rio que toquei com os pés.
Mirava de tão longe as suas águas, de tão longe distância a ponto de imaginar que nunca dentro de mim caberia.
As suas curvas, os riozinhos que afluem para ele, a vegetação que o contorna e os pássaros que dão rasantes ao fim de tarde.
O fim de tarde em suas águas que leva até o sol se acalmar em seu respeito.
É o rio que torrente passava por mim e que só da sua margem avistava.
Rio que ousei pisar os pés.
Senti a areia entre os dedos, o movimento das suas águas subindo pelas minhas pernas até me deixar levar pela sua correnteza.
Ora mansa, ora revolta, leva meu corpo, desprendendo o que há em mim. Isso que não ouso dizer o nome e que até imaginei não pudesse em meu peito caber.
As margens ficaram cada vez mais longes, remotas.
Sentia agora o rio pleno envolvendo meu corpo.
O sentido de referência se foi.
A partir de agora é só o rio que não mais via de longe.
Aquele que imaginei que nunca caberia dentro de mim.
Os pés, as pernas e meu peito.
Meus cabelos molhados e a respiração sufocada.
Flutuei sobre a lâmina das suas águas.
Meu corpo se foi corredeira abaixo.
Uma embarcação sem proa, sem luz.
Sem norte.
Apenas flanando sobre suas águas.
Solto, leve, calmo, mas que logo se agita revolto.
Depois se acalma.
Rio que desatina as minhas águas.



Nenhum comentário: