segunda-feira, 14 de abril de 2014

Entrega de lua

Um dia ela pegou um banquinho, encostou perto da parede, subiu nele e recortou uma lua que estava num quadro azul cheio de estrelas.
Ela brilhava na sua mão e refletia no seu olhar. A luz da lua cheia fazia brotar água deles. Uma água de alegria e encanto.
Nem dormiu de noite. Para se ter uma ideia, no dia em que ganhou a cecizinha resistiu até umas três da manhã e depois sucumbiu. Com a lua na sua cama, sentiu o cheiro do café da vizinha e soube que já era dia. Mas a lua ainda brilhava.
Foi até o correio, colocou o satélite dentro de um envelope, escreveu uma cartinha com enfeites coloridos, passou cola e despachou a lua que tinha na mão.
A carta atravessou o atlântico e o pacífico. Seu destino era uma ilha.
- Moço, quando a minha lua chega lá?
- Que lua? Aqui só tem papel!
- Que dia, moço?
- Sexta.
- Não quero que amassem ela, tome cuidado.
Saiu de lá, caminhou como quem já não quer mais chegar em lugar algum.
Em casa, olhou para o banquinho, para o buraco enorme que a falta da lua cheia no quadro causou e sorriu.
Nunca tinha colocado uma lua no envelope.
Na sexta, quando a lua chegou na ilha ela dormia. Culpa do fuso horário.
A carta chegou, ele abriu o envelope e a lua logo se mandou para o mar. Antes, porém, pediu para que ficasse sentado na areia, pois ela já voltaria.
Sentou e se emocionou ao vê-la saindo vermelha lá longe.
Foi justamente a hora em que ela acordou. Saiu da cama. O banquinho estava no mesmo lugar. Ouviu um barulho de onda e uma brisa.
Sentiu o taco do seu chão se esfacelando em minúsculas partículas de areia branca.
Quando se deu conta, sentiu o abraço de lua que tanto aguardou.

Nenhum comentário: