quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Diálogos sobre a paixão

Me disse um amigo, certa vez, que não queria me ver assim, triste. Acreditava ele que eu estaria mal por estar apaixonado. Eu respondi que não estava mal, mas ele insistiu que sim.
Aquele debate, regado a chuva e caldo de feijão, não saiu da minha cabeça.
Ainda discordo dele.
Não se fica triste por se apaixonar.
Momento raro de encantamento, é um estado de espírito. Quando se está assim, se vê beleza pelos poros. Num olhar de um cãozinho, no detalhe de um sorriso de criança, numa flor qualquer encontrada pelas entrequadras. Tudo que se encontra pelo caminho, se quer levar para a pessoa amada. Cartas de amor, poemas, bandeiras, trincheiras, melodias: tudo! A criatividade se eleva ao maior grau de excelência.
Minha gata, outro dia, me trouxe um rato de pano e entregou aos meus pés. Logo ela que manda em tudo, na casa toda e não precisa de nada, nem de ninguém. Mas, naquele momento, quis minha atenção e, para tanto, me deu o que tinha de mais precioso. Este é um ato de paixão.
Entregar.
Se entrega o que temos de melhor e, se busca, o que ainda sequer temos.
Essa entrega e essa busca é um momento mágico na vida.
Porque a vida, na maior parte do tempo, é uma ausência de paixão. Porque temos outros milhões de coisas para nos preocupar do que dar o nosso melhor para alguém.
Pena que passa. A paixão passa. Correspondida ou não, passa.
Mas algo fica e isso que fica, na verdade, é uma oportunidade para, mesmo nos momentos de baixa das águas da paixão, tentar a busca do que ela nos oferece. Porque a vida precisa disto para pulsar e colorir.
Até que ela venha de novo, pois sempre virá. Assim como a chuva em Brasília.



  

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