sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Sexta e os andarilhos

Ao final de uma extenuante semana, com pouco ou quase nada sobrando de cabeça para qualquer coisa, ele pegou suas roupas, botou num saco de arroz, amarrou com imbira e lançou os pés no asfalto.
Pendia ao longe um alaranjado de sol, menos que um arremedo do que tinha sido poucas horas antes. A impressão de que o mundo, neste momento, parou um pouco, pois os trabalhadores desciam de seus baús apinhados de gente, rumo ao banho tão desejado ou a uma mesa de sinuca numa bodega qualquer. As domésticas, cansadas de servir à suas patroas também em casa chegavam, porém com menos sorte que seus homens dado que, com suas demandas, esperavam-nas os filhos.
O homem padrão classe média, com os vidros fechados do carro e pouco se importando com o moleque que dava piruetas ou engolia fogo no semáforo caminhava para mais um happy hour com os amigos para relaxar antes de chegar em casa. Tudo iusso acontecia enquanto caminhava.
Nosso andarilho apenas continuava, em silêncio a buscar algo distante de si e da maioria das pessoas.
Gatos começavam a acordar para suas rondas noturnas.
Talvez, quem sabe, encontre pelo trilho uma flor, um pé de pequi magnificamente retorcido ou uma carcaça de animal já seca. Quem sabe, talvez, só encontre mesmo as pedras, o horizonte a ser conquistado, a fumaça de alguns caminhões desrregulados. Quem sabe, assim, não procure mesmo nada. Seu objetivo talvez seja tão somente ficar cada vez mais distante dos lugares, das coisas e das pessoas que já cruzou pelo caminho. Talvez procure a mulher amada e acabe encontrando-a apenas na sua loucura.
Uma pausa, uma marquise, um sono.

Outra pausa, um pedido, um prato de comida.
E a vida segue passando ligeira à sua margem, as pessoas num tempo e ele noutro bem distante.

















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