Que caiu demasiadamente forte no dia que Mel recebera a carta, fez com que a grama se lambuzasse de alegria. Após 5 meses de seca total, todas elas ficaram extasiadas, receberam a água como quem recebe um amor que estava longe, muito longe.
No tempo em que a seca castigou as plantinhas, a primeira coisa que perderam foi a cor verde e com essa, quase se foi também a esperança.
Muitas já haviam falecido, cansadas por esperar as gotas de água lançadas lá de longe. Umas outras, no entanto, preferiam acreditar no que lhe contavam os pássaros vindos de lugares outros, onde, segundo eles, a chuva já havia passado e se encaminhava para cá.
Quando ela caiu foi um alvoroço geral, todas corriam por entre jardins, praças abandonadas pelo poder público e campos de futebol.
A improvável chuva acordava os amantes em seus leitos de amor, eles descansando como anjos depois de um noite de muita entrega e prazer, acordaram meio que atônitos com o barulho das gotas sobre os telhados.
O evento sacudiu todos, fez com que Mel chorasse copiosamente no ônibus e conhecesse Luís, fez com que Sil ouvisse a flauta mágica de Josué e com ele esquecer um pouco que sua vida estava resumida a alguns poucos dias.
Na noite do dia seguinte todos eles iriam se encontrar. A chuva e os quatro, numa cena tão inimaginável tempos atrás quanto o próprio término das secas.
Um comentário:
um beijo no pá.
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