Encarava a enchurrada e seus olhos meio que tentavam acompanhar o movimento das águas.
Nisso, derrama copiosamente lágrimas.
Mesmo estando na rua, sentia segura em se esvair pois ninguém a notava, tampouco a seus olhos, dado a proteção da torrencial chuva.
Inconformada com o desfecho dos seus planos, era só tristeza.
Ela queria ser uma boneca de pano, como Emília, mas quando foi dizer à mãe seu desejo, foi duramente repreendida.
Sonhava em ter cabelos de tecido coloridos, morar numa casinha e enxergar nos olhos das crianças encantamento.
No fundo, sabia que as bonecas eram felizes. Mesmo as que não tinham braço. Para ela, todas assim eram, pois não precisavam ir para a escola, tomar banho as 19hs, comer coisa verde.
Cansou da disciplina da mãe e do desprezo do pai.
Via as bonecas como artistas de novela, tão lindas, tão perfeitas...
Nisso, apareceu um cãozinho ao seu lado. Contou todas as suas mágoas para ele que as ouviu com os olhos marejados.
Balançava o rabinho querendo animá-la. O que foi conseguindo com alguns latidos de carinho.
A menina que queria ser boneca, juntou um tanto de papelão trazido pela tempestade, construiu um barco, chamou o cãozinho para ir com ela. O vira-lata, tambémcom saco cheio de tudo, subiu na proa e foi guiando a menina.
Aos poucos, foram se distanciando do meio fio, dos bueiros e navegavam em alto mar, longe de tudo e de todas as pessoas que não compreendiam os desejos fantásticos de crianças, nem o olhar comovente dos cãezinhos abandonados.
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